sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Enchendo Lingüiça

A transformação

Todas às segundas-feiras, quando chego pra trabalhar, Dona Rosângela já está de pé na calçada, pronta pra mais um dia de luta.
Trata-se da faxineira que semanalmente vem dar um trato na nossa casa.
Dona Rosângela, uma negona, manda muito bem no batente. Extremamente educada, quase não fala. Mas sempre termina as frases com "senhor". O que chega a ser um exagero.
- Seu João, posso limpar a sua sala, senhor?
O que mais me cativa na Dona Rosângela, é que além de negra, ela também é rubro! Percebi quando passei a observar a forma carinhosa com a qual ela limpa o São Judas Tadeu que fica sobre a minha mesa. Um dia resolvi puxar assunto:
- "A senhora é flamenguista?"
- "Sou sim, seu João. Eu adoro esse Flamengo, senhor". E continuou trabalhando cabisbaixa como de costume.
No final do ano passado, na semana do jogo que nos classificou para a Libertadores, Dona Rosângela entrou na minha sala com um cafezinho. Agradeci e emendei:
- "A senhora vai no jogo domingo"?
- "Não, seu João. Tenho muito medo, senhor"
- "Mas o Maracanã tá tranqüilo, é jogo de uma só torcida, tenho ido com a minha família"
Pronto! o espírito rubro-negro baixou e ela se transformou.

- AI, SEU JOÃO! NÃO POSSO NÃO SENHOR! OLHA COMO FICO NERVOSA, SEU JOÃO. EU NUNCA FUI AO MARACANÃ, O MEDO QUE TENHO É DE TER UM TROÇO LÁ DENTRO, SENHOR. E ESSE JOGO QUE NÃO CHEGA, SEU JOÃO. SE A GENTE NÃO FOR PRA LIBERTADORES VAI SER UMA DESGRAÇA, SENHOR!"

Nem de perto era a Dona Rosângela recatada e tímida! Muito menos a educadinha, pois gritava mais que um geraldino. Eu tava quase dando um ingresso pra ela, mas temi que tivesse um peripaque de alegria!
Já imaginaram quantas Dona Rosângela têm no meio da Nação?

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Então tá marcado. Nos encontramos aqui toda sexta-feira pra falar do Mengão e encher um pouco de lingüiça com histórias de filhos, amigos, jogo de botão, música, cachaça, política, churrasco, diversão e por aí vai...

Saudações Rubro-Negras!

Um grande abraço do João Tatá.*


Carioca repatriado após uma temporada de 14 anos em São Paulo. Conheceu a Fla-Sampa quando procurava companhia pra assistir a um jogo do Mengão na capital paulista. Adorou o convite para escrever no blog, com a condição de criar a coluna "Enchendo Lingüiça", pra jogar conversa fora.

8 comentários:

Fábio Martins disse...

As crônicas do Tatá são as melhores. Ele sempre manda umas ótimas por e-mail... As do harry Potter e a do americano na porta do maraca são impagáveis.

Viva o Tatá, o Forrest Gump da Fla-Sampa.

JUBA Spaziani disse...

Muito bom Tatá!!

Essa eu já conhecia e digo que é uma das melhores que vc já escreveu.

O pessoal não perde por esperar......muitas outras 'crônicas tatanianas' virão.

SRN.

Unknown disse...

Ainda bem que voce não deu o ingresso senão perderiamos uma grande rubro-negra,louca p/ soltar a loucura de ser flamenguista.

Hassan Kishk disse...

Po tatá, Encheu meus olhos de lágrimas!!

Unknown disse...

Até vc Hassan???
Invasão de Emos na Fla Sampa!!!

Tatá,tu escreve bem heim!!!!hehe

SRN

Rafael Lima Simões disse...

Grande Tatá, o Flamengo faz aflorar os instintos mais primitivos ... rs

Mas é sensacional essa parada do torcedor, o quanto o Flamengo o cativa, esse lance de fazer parte do dia a dia do Clube. Amo o Flamengo.

Parabéns pela coluna

João Tatá disse...

Valeu, moçada! Fico feliz que tenham gostado. Se bem que, elogio de amigo é suspeito, né? Glorinha* também adorou!

Juízo no carnaval! Fiquem com Deus!







* minha mãe.

Fábio Martins disse...

Tatá tem que escrever a última vez que a Glorinha viu um jogo do Mengão no Maraca... Só por essa história eu tenho uma enorme vontade de conhecê-la pessoalmente hehehehehe.

A história é sensacional hahahahaha

SRN